Super-heróis
Dar voz às Crianças - Dia Mundial contra o Trabalho Infantil
Dia 12 de Junho é dia de reflexão contra o trabalho infantil.
Dar voz às crianças é conversarmos em conjunto e deixá-las reflectir e exprimir o que pensam.
É também estimular a sua cidadania activa desde cedo…
Sonhamos com um mundo onde serão mais ouvidas e respeitadas…
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Infelizmente “infâncias roubadas” é a triste realidade de tantas crianças no mundo, realidade quem em São Tomé nos deparamos todos os dias, assim é também uma reflexão que fazemos diariamente todo o ano e que nos faz sentir tantas vezes incapazes de fazer mais para defender este seu direito a ser criança.
Recordamos por exemplo a conversa de recreio de escola com um menino no dia mundial da criança: muito interessado com as aguarelas que colocávamos nas paredes da escola, pintadas pelos seus colegas, lembrámos de lhe perguntar se era de Água-Izé e informar os dias em que fazemos actividades convidando-o a participar. Ficamos tristes ao ouvir: “eu não vou puder, tenho de ir para o rio lavar. Ainda perguntamos já de coração apertado se nem ao Sábado que ficamos de manhã e de tarde… disse que não, que vai cedo e regressa às 17h. É triste ficar sem resposta para uma criança que deveria ter o direito a ser criança, a ter tempo livre e de lazer para brincar e participar em actividades adequadas à sua idade. Casos como este existem tantos mas tantos, basta andar nas estradas de São Tomé para perceber…
Outro encontro triste, que não esquecemos, este já de 2019. Num dia de semana, no fim da sessão de actividades saímos da roça de Água-Izé, na estrada nacional que cruza esta comunidade, ao longe vemos uma menina dos seus 7 anos com toda a louça que tinha empilhada num grande alguidar a desequilibrar-se e espalhar-se na estrada. De imediato dissemos ao Dinix “vamos parar para ajudar”. Ao chegarmos ao pé da menina ela só chorava, lá apanhamos tudo, ajeitamos no alguidar e tentamos acalma-la sem sucesso. Veio outra menina dizer “partiu prato em casa vão dar chicote” ela chorava ainda mais, mais uma vez como tantas outras sentimo-nos tristes, impotentes e a única coisa além de acarinhar momentaneamente a menina foi perguntar se ia ali para o rio mais próximo, que lhe dávamos boleia até lá, coisa que não costumamos oferecer por uma questão de princípio e responsabilidade inerente. Chorou todo o caminho e lá a deixamos mais à frente à beira da estrada…
Tentamos compreender a situação socio-económica das famílias, a pobreza em que vivem, sem saneamento, sem água corrente na comunidade, dependentes das caminhadas para o rio para lavar roupa, loiça e trazer água para casa… mas caramba estamos em 2022, é difícil aceitar esta triste realidade. As causas do trabalho infantil são tantas… é preciso que os governos tomem este assunto como prioritário e URGENTE, é preciso analisar todas as causas desta triste realidade que são as infâncias roubadas em São Tomé e Principe. Isto foram apenas dois casos de excesso de trabalho doméstico, a lista de piores formas de trabalho infantil é longa, a percentagem real de crianças envolvidas é desconhecida, o ciclo de pobreza criado quando as crianças precisam de trabalhar, privando-se de oportunidades de educação e lazer exige uma reflexão e sensibilização de toda a sociedade, instituições governamentais e não governamentais e acima de tudo verdadeira união de todas, pois é um enorme e complexo problema. É preciso sensibilizar as famílias, que cresceram na mesma realidade, é preciso melhorar também as suas condições básicas de vida.
O trabalho infantil é uma violação aos direitos da criança que a nosso ver não está a ser vigiado, as crianças deveriam ter direito à proteção…
Trabalho infantil é qualquer trabalho inadequado para a idade das crianças, afecta a sua educação, prejudica a sua saúde física, mental e segurança.
O trabalho infantil perpétua o ciclo de pobreza das crianças envolvidas, suas famílias e comunidades. Sem educação o mais provável é que estas crianças estejam condenadas à pobreza.
A nossa reflexão já vai longa, vamos continuar a sensibilizar na comunidade onde estamos “residentes”, onde a Missão Dimix partilha actividades lúdicas com as crianças. Às vezes, ainda que nem sempre, basta falar um bocadinho com uma mãe ou avó para ver a alegria nos olhos das crianças que ficam autorizadas a participar nas actividades que tanto gostam…
Há tanto para fazer…
Voltamos a partilhar esta curta “Vida Maria” de Márcio Ramos, que ilustra de forma exímia toda a nossa reflexão…
Sinopse: Maria José, uma menina de 5 anos de idade, é levada a largar os estudos para trabalhar. Enquanto trabalha, ela cresce, casa, tem filhos, envelhece.
O filme nos mostra a história da rotina da personagem “Maria José”, uma menina de cinco anos de idade que se diverte aprendendo a escrever o nome, mas que é obrigada pela mãe a abandonar os estudos e começar a cuidar dos afazeres domésticos e trabalhar na roça. Enquanto trabalha ela cresce, casa e tem filhos e depois envelhece e o ciclo continua a se reproduzir nas outras Marias suas filhas, netas e bisnetas.
São apresentadas no filme imagens que mostram uma semelhança muito grande com a realidade, traços bem parecidos com o real onde vemos crianças que tem sua infância interrompida, muitas vezes para ajudar a família a sobreviver, infância essa resumida a poucos recursos e a más condições de vida.
A Maria do filme mostra satisfação em apenas escrever seu primeiro nome, o momento em que sua mãe lhe chama a atenção dizendo: “Não perca tempo “desenhando” seu nome!”, é tirado o seu futuro de ser uma pessoa diferente de sua mãe, que não tem uma visão do futuro, querendo dar à filha a mesma criação que teve num processo de reprodução sem mudanças de suas perspectivas por comodismo.
O filme retratou como o indivíduo em formação internaliza os eventos e as experiências vividas na infância e como são determinantes para formação daquela pessoa na vida adulta. No filme a menina Maria foi arrancada do seu mundo lúdico, quando sua mãe a repreende por estar escrevendo, ela corta da vida da filha os sonhos, os objetivos de uma vida melhor.
A mãe da personagem vive aquela vida sem perspectiva por que foi isto que aprendeu e da mesma forma ensina a filha Maria e esta reproduz para seus filhos, que também foram estimulados a deixar de sonhar e de brincar. A ausência da educação nas gerações mostra como na infância é importante o lúdico e a escola.